Milton Gonçalves nos deixou na última segunda-feira aos 88 anos por consequências de um AVC, que enfrentava desde 2020.
A perda irreparável no mundo artístico frisou o grande legado que o ator deixou para o mundo televisivo.
Tendo marcado gerações, Milton era frequentemente visto em títulos estelares da Rede Globo, como ‘O Bem-Amado’ e ‘Pecado Capital’.
A carreira do ator na Globo começou junto com a trajetória da própria emissora, em 1965. Ao lado de Célia Biar e Milton Carneiro, ele formou o primeiro grupo de atores globais.
Em entrevista ao arquivo Globo ele chegou a brincar, dizendo que não havia nada quando começou lá. “Não tinha inaugurado nada ainda. Os três estúdios e o auditório pareciam para mim os estúdios da Universal. O primeiro salário foi 500 cruzeiros. E eu fiquei feliz”, disse Milton.
Confira abaixo os papéis mais marcantes de Milton Gonçalves ao longo dos anos:
Dr. Percival – Pecado Capital (1975)
Assumindo o papel do renomado psiquiatra, ele fez história na primeira versão da novela.
Até então, negros só eram colocados em funções de empregados, motoristas ou escravizados nas novelas. Ter um personagem negro como médico pela primeira vez foi algo marcante na história da televisão.
Zelão da Asas – O Bem-amado (1973)
Cheio de metáforas, o personagem de Milton representava a busca por liberdade política e de expressão em plena ditadura militar.
O pescador sonhava em voar e ser livre, o que acontece de forma emocionante no final da novela.
Pai José – Sinhá Moça (2006)
Nesta segunda versão da novela, o ator interpretou Pai José, um escravizado reprodutor que mesmo em sua velhice ainda mantinha a esperança da liberdade, o que o levou a um triste fim. O papel o levou a patamares internacionais com a indicação do título ao Emmy Internacional, onde apresentou uma categoria ao lado da icônica Susan Sarandon. Ele foi o primeiro brasileiro a apresentar a premiação.
Afonso Nascimento – Lado a Lado (2012)
Como pai da protagonista Isabel, o ator emplacou sua participação em mais um título brasileiro levado ao Emmy, só que desta vez, um título vencedor.
Paulo – E Se Eu Fechar Os Olhos Agora (2019)
O último papel de Milton Gonçalves não poderia ter sido diferente e emocionou o público ao mostrar Paulo em sua versão idosa. Carregado de traumas de infância, ele mostra como conseguiu lidar com tudo e se tornar um grande homem.
Mas se engana quem pensa que Milton não arriscava em outras áreas. Ele também foi o responsável por dirigir títulos grandes como
Selva de Pedra, Irmãos Coragem e a primeira versão de Escrava Isaura.
O Brasil perde mais um artista completo, mas as obras permanecem eternas nos corações dos telespectadores.